sexta-feira, 14 de novembro de 2014

SERRA DO RIO DO RASTRO

Em maio de 2014 ganhei da minha esposa um presente dos sonhos. 

Chegava em minha casa a Judith, uma Shadow 600 VT preta. E com ela, a vontade de pegar a estrada e curtir uma longa viagem. 

Começava ai o planejamento para conhecer a estrada mais maravilhosa do mundo. 

Meu amigo Binho entrou nessa vibe comigo e tratou "logo" de comprar uma moto pra ele também. Em outubro chegava sua Harley Davidson preta 1200 sporter, da qual logo ele apelidou de Agatha.

Resolvemos fazer o passeio no começo de novembro. Pesquisei o roteiro, hotéis, pedágios e estradas pelas quais iríamos passar.

No dia 03 de novembro pegamos a estrada rumo ao sul partindo de Itanhaém ate o encontro da BR 116.




Fomos em direção a Morretes no Paraná onde seria nossa primeira parada. Pilotar motos na estrada em grupo exige habilidade e espírito de equipe e nisso o Binho foi campeão. A cada 180km em media parávamos para abastecer e esticar as pernas e principalmente minha coluna cervical que não me deixava em paz. 

Antes de chegarmos a Curitiba, pegamos a Estrada da Graciosa. Um lugar pra lá de charmoso. Uma estrada centenária, cheia de curvas com parte de asfalto e parte de paralelepípedo que a deixa um pouco perigosa. Mas nada de complicado. Um visual incrível. Como era uma segunda feira, estava tudo fechado no caminho.

Chegamos em Morretes já no meio da tarde. Como era de se esperar: tudo fechado. Eles tem um movimento forte no fim de semana, pois recebem turistas e motociclistas. Além do famoso trem que parte de Curitiba e desce a serra. Passeio também imperdível.
Pra comer por lá tem que ser o famoso Barreado. Nem preciso dizer que não comemos isso também.

Ficamos no Hotel Nhumbiquara bem no centro. R$ 40 mangos por cabeça. Barato para um hotel super charmoso e com quase 280 anos de historia. Pessoal super atencioso e atendimento nota dez. Fomos dormir super cedo. Cidade deserta, sabe como é...



No dia seguinte partimos em direção a Balneário Camboriú, a Miami brasileira. Fomos em direção ao mar, pois queríamos ir costeando o oceano. Vale destacar este trecho entre Morretes e Matinhos no extremo sul do Paraná tem estradas ótimas e bem tranquilas. Em Matinhos pegamos a balsa pra Guaratuba.



Paramos pra fotos e seguimos em direção a Joinville em Santa Catarina. Passamos por Garuva e chegamos a nossa ultima parada. Almoçamos em uma churrascaria na entrada da cidade. Preço salgado, mas atendimento ótimo. 



Abastecemos e partimos para Camboriú. Chegamos lá no final da tarde. Percorremos a orla. Lugar incrível. Gente bonita e transito caótico. Não pode estacionar veículos nem motos na orla, somente nas vias laterais e mesmo assim em pouquíssimos lugares. Se você não quer deixar sua moto no hotel, esquece Camboriú.

Paramos as motos em um bar na rua 1001 do Bufão. O cara é o dono. Espetáculo. Super atencioso, e comunicativo. Ate viu uns hotéis mais baratos pra gente ficar e por incrível que pareça, pegou sua moto e levou a gente ate lá. Coisa de viagem que a gente nunca vai esquecer. Vale um parênteses aqui...ate a moca que vende zona azul é linda.

Ficamos no Hotel Dinamarca. R$ 50 mangos por cabeça pra Balneário Camboriú...tava ótimo!

A noite fomos jantar no Chaplin na orla. Bar ótimo e comida e bebidas excelente.

No dia seguinte cedo partimos rum a Floripa. Aqui começa a estrada dos caminhões e carros querendo passar por cima de você. Péssimo. A entrada para Floripa é o caos. A policia ainda resolveu fazer um comando na entrada da cidade. Consequência: tudo parado. E dá-lhe corredor e buzina!



Demos um role pela Ilha e paramos no Costão do Santinho. Tem um restaurante de frente para o mar lá que é um delícia. Comemos camarões no bafo e file de anchova na brasa. Valeu a viagem. Tudo isso num visual incrível com os caras praticando kite surf pois ventava pra caramba. Pernoitamos na Pousada Schmitz na lagoa. R$ 40 mangos por cabeça. Apto com dois quartos, bem bacana. Tem mercado na frente e farmácia. Os aptos tem ate cozinha se você não quiser gastar na ilha.

Até aqui tinha só tempo nublado. Começava a me preocupar, se na serra estaria este tempo. Lá tem 1400m de altura e em dias nublado você não vê nada. Pela previsão tinha uma janela de abertura de tempo que iria ser justamente na quinta e sexta. Depois começaria a chover novamente. Fomos pra lá então.

Partimos em direção a cidade de Tubarão e de lá iríamos ate Lauro Muller que é a cidade onde começa a Serra do Rio do Rastro.

A estrada vai melhorando aos poucos com menos caminhões na rodovia e só piora quando chega em Tubarão, pois como é um porto lota novamente de caminhões. Estavam fazendo uma ponte no local que também dificultava o acesso. Dá-lhe corredor!

Passando Tubarão começa o charme das cidades ao longo da estrada até Lauro Muller. Muitos sítios e fazendas de gado ao longo da estrada. Casinhas com jardins impecavelmente cuidados parecendo incrivelmente europeus. E a população local merece outro parênteses a parte... são gentis e prestativos assim como a população do nordeste mas sem ser afetados, transbordando educação.

Passamos por cidades como São Ludgero, Orleans ate chegar em Lauro Muller. Até aquele momento já tinha sido quase mil km de viagem desde Itanhaém.




Paramos em uma pequena pousada na entrada da cidade chamada Beira Rio e a simpática filha do proprietário nos atendeu e nos convenceu a ficar por lá mesmo. Resumo: R$ 40 mangos por cabeça. Show.

Para não perder tempo, por causa do tempo ruim mesmo se aproximando, resolvemos subir a serra com mala e cuia. 

A primeira sensação da serra do rio do rastro são aquelas curvas mais longas de subida em que a moto deita naturalmente no asfalto. mas, a medida que se sobe, a dificuldade vai aumentando e as curvas vão se fechando. Maravilhoso pra quem me entende. Ralei a pedaleira dezenas de vezes. Curti muito até uns 70% da subida, pois dai pra frente nublou e eu não conseguia enxergar nem o Binho que tava uns 10 metros a minha frente. Resolvemos descer. 

Comparações a parte, eu gostei muito mais de pilotar nesta estrada cheia de curvas na subida do que na descida.



Há de se ter cuidado com o transito na estrada, pois ela é muito utilizada por caminhões que por vezes chegam a travar, tamanha lentidão. Tem trechos que eles tem que dar marcha ré pra fazer a curva. Outro cuidado é com a agua que desce da montanha e invade a pista. Curva e agua é uma combinação bem complicada, principalmente na descida.

Voltamos pro hotel com o sorriso de ponta a ponta no rosto. 



Resolvemos ir jantar e na hora de sair tive meu único probleminha com a Judith. Deu uma pane elétrica e fiquei sem piscas, luz de freio, de painel e buzina. Como o caminho era bem curto, saímos mesmo assim. Com o Binho dando cobertura. Mesmo porque a noite Lauro Muller parecia outra cidade fantasma.

Fomos a uma cervejaria chamada Lohn que produz cervejas artesanais de trigo. Lugar bacana. Varias motos na frente. Atendimento especial. Quando estávamos lá dentro adivinhe o que aconteceu: chuva. Tivemos que voltar pro hotel debaixo de chuva e com pane elétrica...aventura que não combina com motociclista responsável!


No dia seguinte, acordo bem cedo com o barulho de um carro passando na rua e ao abrir o olho pela fresta da cortina enxergo o céu todo azul. Em 10 minutos já estava entrando na serra. O Binho não quis ir...ficou dormindo...perdeu moleque! 

Ai sim. Mais confiante. Curvas fechadas deitando o máximo. Agora sem bagagens...bem melhor. Pedaleira raspando no chão. Eram 6 e 20min da manha. Pouco movimento de carga. Parecia o dono da estrada. Isso de novo ate uns 70% da subida, pois a partir dali parecia uma cachoeira na pista de agua caindo da montanha e logicamente reduzindo minha velocidade. 

Lá em cima tive uma das visões mais privilegiadas da minha vida. 

Acredito que Deus olhou aquela montanha e fez com seu dedo um risco nela abrindo uma grande fenda e o homem fez a estrada para chegarmos lá e admirarmos toda essa beleza.

Ventava muito. 10 graus de temperatura com sensação térmica de 5°.





Mas, valeu a pena. Projeto cumprido.

Depois foi só descer, aproveitando o máximo de curvas. Levei a moto pra consertar numa oficina na cidade. Era um fusível queimado e uma lâmpada do farol de milha. Arrumamos a moto e voltamos para balneário Camboriú e depois para Itanhaém.

2 mil km depois chegamos já com vontade de planejar a próxima viajem.

Valeu Binho pelo companheirão que você foi nesta viagem e agradeço a todas as pessoas que contribuíram para este projeto dar certo. Valeu Roberta pela confiança. Parabéns povo do Paraná e principalmente de Santa Catarina pela educação e cordialidade que nos receberam.

Homem que é homem FAZ !!!